A corrida para excelência não tem linha de chegada.
David Rye

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sistemas antifurto ainda não detêm o ladrão profissional de carro

Nunca roubei um carro na vida, mas Dick Riefe recentemente me mostrou como dar partida numa Chevy Suburban ano 1989 usando uma chave de fenda, em apenas dois minutos.


Rief tornou-se um especialista em roubo de carro de forma honesta. Aos 68 anos, ele trabalha há meio século com tecnologia de prevenção de furto de veículos na Nexteer Automotive, uma das maiores fornecedoras de colunas de direção e de sistemas de segurança para o componente.


Criar tecnologias para impedir roubo de carros é um jogo de gato e rato em constante evolução. Montadoras e fornecedores como a Nexteer inventam novos sistemas. Os ladrões se adaptam.


Nos últimos anos, os mocinhos levaram vantagem.


Os dados mais recentes do FBI (a polícia federal dos Estados Unidos) para um ano completo, o de 2010, mostraram um declínio de 7,4% nos furtos de automóveis no país em relação ao ano anterior, o sétimo ano consecutivo de queda. Números preliminares para 2011 indicam que os furtos caíram mais 3,3% comparado com 2010. Na cidade de Nova York, autoridades policiais dizem que os roubos diminuíram de 147.000 veículos em 1990 para somente 9.300 no ano passado.


"Hoje, roubar um carro é mais difícil do que antigamente", disse Robert Hartwig, presidente do Instituto de Informações de Seguros, uma entidade da indústria de seguros com sede em Nova York.


Ainda assim, ladrões roubaram 737.000 veículos nos EUA em 2010, num valor perto de US$ 4,5 bilhões, segundo os dados do FBI.


Nos últimos anos, cresceu o número de casos de furto de componentes caros de automóveis — como o airbag, que pode custar até US$ 1 mil na loja, mas menos no mercado negro — e conversores catalíticos, que contêm platina e paládio, metais raros e caros.


Também há sinais de que os sistemas eletrônicos antifurto atuais não são tão intimidantes como o anunciado.


Proprietários de BMWs ficaram alarmados nos últimos dias com um vídeo que parece mostrar ladrões mascarados na Grã-Bretanha roubando um BMW em apenas três minutos, aparentemente depois de invadir como um hacker o sistema de alarme do carro e então clonar a chave eletrônica usando uma porta de diagnóstico de fácil acesso. Na internet, há uma leva de vídeos que mostram pessoas conectando a portas de diagnóstico dispositivos para clonar chaves .


"A guerra contra ladrões cada vez mais sofisticados é um desafio constante para todo fabricante de veículos", informou a BMW em um comunicado de resposta ao vídeo.


Listas dos modelos mais roubados nos EUA, elaboradas pelo Órgão Nacional de Crimes de Seguro (NICB, na sigla em inglês), uma entidade sem fins lucrativos, sugerem que os ladrões se pautam basicamente pelo mercado de peças usadas, onde modelos populares valem mais do que carros de luxo.


Em 2010, o veículo mais roubado foi o Honda Accord ano 1994, seguido do Honda Civic ano 1995 e do Toyota Camry modelo 1991. A picape Chevy Silverado ano 1999 ficou em quarto lugar e a Ford F-150 ano 1997, em quinto. Todos figuravam entre os modelos de carro e caminhonetes mais vendidos no EUA.


Avanços na tecnologia eletrônica antifurto contribuíram para a queda no roubo de certos modelos. Em 2010, foram roubados 5.331 Honda Accords modelo 1997, mas só 533 fabricados em 1998, segundo dados da NICB. A diferença: o modelo mais novo vinha com um novo sistema de ignição eletrônica que imobiliza o carro se a chave certa não for usada.


Na Nexteer, um colega de Riefe, Larry Burr, leva sempre no bolso uma sovela personalizada que parece o instrumento ideal para arrombar uma fechadura. Burr ajudou a desenvolver um grande avanço na década de 60, quando a Nexteer, então uma divisão da General Motors, reprojetou as travas da coluna de direção. A partir dali, seria preciso 1.225 quilogramas-força (em vez de apenas 160) para abrir uma trava à força e fazer a ligação direta.


"Durante um tempo, isso deteve os ladrões", disse Burr, de 76 anos.


A chegada dos primeiros sistemas de ignição eletrônica no final dos anos 80 e início dos 90 começou a tirar do páreo o amador e a velha chave de fenda. Com esses sistemas, que estão sempre reativando os códigos exigidos para dar partida no carro, e sistemas mais fortes de imobilização do câmbio e da direção, ficou difícil para o ladrão amador ligar o carro nos seis a oito minutos que a maioria estava disposta a arriscar na tentativa, disse Burr.


Numa manhã de junho na sede da Nexteer, RC Derocher mostrou como era fácil conseguir o controle parcial de um utilitário esportivo de luxo ano 2007. Derocher, um rapaz musculoso — que aos 27 anos é um dos caçulas da equipe de sistemas de segurança da Nexteer —, deu um abraço de urso no volante e lançou o corpo na direção do banco do passageiro, arrebentando a trava que impedia a direção de girar. Em seguida, com um tranco na alavanca do câmbio, rompeu essa trava também.


Eu fui capaz de dar a partida numa Suburban ano 1989 depois de desmontar a coluna de direção com a chave de fenda. Derocher não conseguiu ligar o utilitário modelo 2007, mas "você está em ponto morto, você pode mover o carro", disse ele. Com dois cúmplices e outro veículo, um ladrão poderia rebocar o carro até uma oficina de desmanche, onde as peças seriam removidas e vendidas.


Mais temidos por proprietários de veículos são profissionais que usam dispositivos sofisticados — incluindo aparelhos eletrônicos capazes de interceptar ou clonar o código da chave — e até guinchos para rebocar um carro na rua ou num estacionamento.


Esses profissionais, cujo alvo são modelos de luxo, normalmente pretendem mandar o veículo para fora do país depois de mudar os números de identificação e trocar computadores de bordo, disse Christopher McDonold, que foi investigador de polícia no Estado de Maryland e presidente da Associação Internacional de Investigadores de Roubo de Veículos.


McDonold, que hoje é vice-diretor do Conselho de Prevenção de Roubo de Veículos de Maryland, disse acreditar que ladrões profissionais já alcançaram a tecnologia de prevenção de roubo, utilizando técnicas de clonagem de chaves eletrônicas e códigos furtados para evitar a identificação de um carro roubado.


A próxima geração de tecnologia antifurto será destinada aos profissionais, com estruturas mais fortes para impedir o destravamento da direção e do câmbio. Engenheiros da Nexteer dizem que um novo sistema de trava com lançamento previsto para breve foi projetado especialmente contra furadeiras sem fio e usa motores elétricos que respondem a sinais do sistema de partida sem chave para bloquear a direção.


Data: 16.07.2012 - Fonte: THE WALL STREET JOURNAL | JOSEPH B. WHITE

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